sábado, 30 de maio de 2015

Jornada por terras nordestinas


  Neste ano de 2015, o Núcleo Ás de Paus tem uma agenda cheia de novas experiências e desafios. Durante o primeiro semestre, a companhia tem trabalhado em seu novo espetáculo, com estreia prevista para este ano, e ainda no mês de junho realizará uma longa caminhada pelas terras nordestinas.
  O grupo começa sua jornada no Ceará participando do II Festival Nacional de Teatro de Rua do Ceará, que acontecerá entre os dias 04 e 06 de junho em Maracanaú, e depois segue para o VIII Festival dos Inhamuns, Circo, Bonecos e Artes de Rua, que será realizado nas cidades de Tauá, de 07 a 09, e Arneiroz, de 11 a 13 de junho. Em seguida, a companhia parte para o estado do Maranhão, onde dará inicio ao projeto EMARANHADO – Jornada em busca das riquezas nas terras esquecidas entre o Grajaú e o Parnaíba, aprovado pelo edital Artes na Rua 2014 da FUNARTE. O grupo londrinense levará seu trabalho para comunidades carentes de São Luís, Belágua, Presidente Juscelino, Cachoeira Grande e Matões do Norte. O objetivo deste projeto é viabilizar o contato do Núcleo com cidades do Maranhão, estado brasileiro com alto índice de pobreza, através da realização do espetáculo A Pereira da Tia Miséria e da oficina O Corpo Coletivo.
  Foi a partir da criação de A Pereira da Tia Miséria, estreada em 2010, que o grupo pode perceber a riqueza e a importância de se fazer um espetáculo na rua, não somente por causa da acessibilidade que se cria, mas também devido à espontaneidade que o lugar público deixa surgir. Com o tempo, os atores puderam notar que o espetáculo, de fato, afetava as pessoas que o assistiam de um modo bastante interessante, o que ficava evidente quando se abria um espaço de conversa após a apresentação da peça. Nas comunidades mais carentes, principalmente, esta abertura logo se tornava um espaço de diálogo que não se restringia apenas ao espetáculo. Percebeu-se que, naqueles poucos minutos destinados a este “bate-papo”, as pessoas começavam a falar de suas experiências, de seus anseios, de problemáticas relacionadas à comunidade em si, enfim, recriava-se, de forma espontânea, o sentido do lugar público. A rua tornou-se para o grupo um espaço de aprendizado constante, um local de trocas que contribuiu e, ainda o faz, para a construção e o desenvolvimento do espetáculo como um todo.
  A ideia de inserir a oficina O Corpo Coletivo como outra ação deste projeto tem por objetivo a participação, ou seja, o real envolvimento das comunidades com esta experiência. A partir de dinâmicas teatrais presentes na pesquisa da companhia, os ministrantes buscam sensibilizar os participantes e, explorar a capacidade criativa de cada um a fim de que, juntos, eles possam construir algo através da arte. Esta oficina possui elementos teatrais, porém é destinada para qualquer pessoa, pois tem como foco os desafios e superações relacionados a todos os seres humanos. Com esta vivência, a companhia quer proporcionar descobertas para estes indivíduos, no intuito de que eles se reconheçam enquanto sujeitos capazes de pensar as suas realidades.
  Realizar este projeto será um grande desafio para o Núcleo Ás de Paus e, por isso, um importante passo na construção de sua história. Mas, além disto, trata-se de uma jornada em busca de trocas, aprendizados, e novas possibilidades com estas comunidades, repletas de pessoas simples, mas com muita sabedoria, que, infelizmente, encontram-se esquecidas e desamparadas no interior deste imenso Brasil. Todas as ações desta grande experiência serão registradas para que, posteriormente, seja construído um documentário, que fará parte do acervo da companhia e possibilitará a divulgação desta importante vivência.

Serviço:


Maiores informações

(43) 96757779 (tim)
(43) 96799784 (tim)




Links relacionados

VIII Festival dos Inhamuns, Circo, Bonecos e Artes de Rua







quarta-feira, 25 de março de 2015

Dona Antônia ou a flor pequenininha que nasce na beira do asfalto.


 Há tempos conhecemos uma senhora. Enquanto criávamos cenas e quebrávamos a cabeça para construir algo orgânico e vivo, Dona Antônia chegou singela e toda curiosa para saber o que nós, em plena flor da juventude, fazíamos neste galpão pintado de preto por dentro e vermelho por fora. Era embaraçoso o fato de não sabermos respondê-la, afinal de contas, algum motivo havia para ali estar todos os dias, até naqueles em que o calor era fatigante e exaustivo. Mas então respondemos – teatro, Dona Antônia. Aqui, fazemos teatro – e foi como se tivéssemos respondido qualquer outra coisa que não fizesse sentido algum para a velha quase jovem senhora. Não importava. Ali, ela estava conosco. E tínhamos de conhecê-la. É o que dizem quando cruzamos com alguém de mais idade. Que este alguém tem sabedoria e que é preciso escutá-lo, mesmo quando diz silêncios. A Dona Antônia desdizia as quietudes. Sempre falava, até quando o assunto lhe faltava, aí dizia à toa. Mas, de vez em quando, fazia brotar umas lembranças e dava-nos as flores que apareciam em forma de sorriso. E trazia tudo isso dentro de um carrinho, que depois de alguns minutos, transformava-se em café, pão de queijo e bolo. Era o lugar e o tempo de papear com toda a seriedade de uma velha criança. Alguns dias mais Dona Antônia veio e mais e mais coisas nos contou. Depois de um tempo, já não sabíamos mais se era ela que precisava de nós pra contar suas histórias ou se éramos nós que precisávamos dela para...descobrir. É...descobrir mesmo! Jogar fora a carcaça que vai se construindo em cima de cada um, pra entender o que vale a pena ser de verdade. Nós não sabíamos por qual razão aquela senhora nos visitava, mas as coisas foram se fazendo, aos poucos, mais valiosas. Feito flor pequenininha que nasce na beira do asfalto. Só sabíamos que disso era preciso cuidar. E assim foi que a Dona Antônia nunca mais se foi de nós.

Camila Feoli

Sobre a atual pesquisa da companhia.